Olhando para trás, é com grande entusiasmo que relembro o início deste percurso com a adoção das orientações da OMS sobre “e-saúde” em Portugal, marcando uma mudança paradigmática na forma como abordamos a relação entre tecnologia e saúde. Em setembro de 2015, tive o privilégio de atuar como facilitador do primeiro encontro nacional sobre o tema organizado pela SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, reunindo cerca de 80 especialistas para discutir e estruturar as bases de uma estratégia nacional alinhada à visão da Organização Mundial de Saúde e que hoje fazem de Portugal uma referência internacional em Saúde Digital.
Como facilitador certificado pela IAF e arquiteto da colaboração, esta tem sido uma jornada que consolidou minhas competências na promoção de diálogos significativos e na criação de espaços de reflexão coletiva. Cada etapa desta caminhada reafirmou a importância do diálogo como ferramenta essencial para alinhar visões, superar desafios e construir soluções sustentáveis em um setor tão crítico quanto o da saúde.
A recente demissão de Gandra de Almeida como diretor executivo do SNS surge como um momento oportuno para refletirmos sobre os desafios e as oportunidades dessa megaestrutura. Poderá o SNS aprender com as suas próprias melhores práticas e exemplos de sucesso como guia para um futuro mais sustentável?
A Direção Executiva do SNS enfrenta desafios estruturais significativos. A falta de clareza na sua missão e escopo de ação compromete a liderança, enquanto a autonomia patrimonial, administrativa e financeira das Unidades Locais de Saúde (ULS) cria tensões na articulação entre os diferentes níveis de gestão. Além disso, a ausência de uma estratégia comunicada de forma clara impede o alinhamento das equipes e dificulta a implementação de soluções consistentes.
Como refletido na última tertúlia do Think Tank SNS de Contas Certas, a integração efetiva entre as políticas nacionais e as competências locais é essencial para criar um sistema de saúde verdadeiramente eficiente e resiliente. Debatemos como o diálogo pode ser o catalisador para superar as dificuldades, desde o alinhamento das funções até a utilização plena das novas tecnologias, como a inteligência artificial, para melhorar a gestão dos recursos.
O IV plenário do Think Tank SNS de Contas Certas, a realizar-se nos dias 3 e 4 de abril de 2025, será uma oportunidade única para debater soluções inovadoras e promover o alinhamento entre as unidades locais de saúde e os municípios. Com temas como sustentabilidade e governança, esse evento promete ser um marco na construção de um SNS para o século XXI.
A evolução tecnológica tem sido rápida, mas o verdadeiro progresso surge quando conseguimos conectar pessoas, ideias e propósitos em torno de objetivos comuns. Como já concluimos em 2015, “o utente surge como o principal responsável pelos seus resultados de saúde, e os hospitais são apenas para as reparações”. Essa visão permanece relevante e torna-se ainda mais essencial no atual contexto, em que a humanização e a participação são elementos centrais para a eficiência e a equidade nos sistemas de saúde.
O futuro da saúde em Portugal depende de nossas ações hoje. Participe no IV plenário do Think Tank SNS de Contas Certas e contribua para a cocriação de um SNS mais integrado, responsivo e inclusivo.
Paulo Nunes de Abreu
Revendo a 6a Tertúlia SNS de Contas Certas
Na semana passada teve lugar mais uma edição da nossa tertúlia com o painel permanente composto por Pedro Pita Barros, Rita Veloso, e Delfim Rodrigues para debater temas cruciais como a gestão estratégica e o papel da Direção Executiva do SNS, o impacto das medidas financeiras e estruturais de 2024 e o potencial da tecnologia e da partilha de dados no setor da saúde.
Aqui estão as principais observações sobre a Direção Executiva do SNS extraídas a partir da transcrição da gravação:
- Falta de Clareza na Missão:
- A Direção Executiva do SNS tem enfrentado dificuldades devido à falta de definição clara sobre seu escopo de ação e unidade de comando. A confusão quanto às articulações e responsabilidades prejudica sua capacidade de liderar.
- Necessidade de Estratégia e Comunicação:
- A ausência de um pensamento estratégico consolidado e de uma comunicação efetiva sobre o caminho a seguir é um dos principais desafios enfrentados pelas sucessivas equipes da Direção Executiva.
- Autonomia das Unidades Locais de Saúde:
- A autonomia patrimonial, administrativa e financeira das Unidades Locais de Saúde (ULS) limita a capacidade de comando direto da Direção Executiva. Há uma tensão inerente entre o papel centralizador desejado para a Direção Executiva e a autonomia das ULS.
- Desafios na Implementação:
- A Direção Executiva tem dificuldades em equilibrar tarefas imediatas, como a gestão de escalas de urgência, com o desenvolvimento de uma visão estratégica a longo prazo.
- Comparações com Modelos Empresariais:
- A ideia de que a Direção Executiva possa operar como o CEO de uma grande empresa foi questionada. A complexidade e a natureza multifacetada do SNS exigem um modelo de liderança diferente.
- Importância da Transparência:
- A necessidade de maior transparência nas decisões e na comunicação interna foi destacada, especialmente em relação à nomeação e substituição de equipes de liderança.
Esses pontos ilustram os desafios enfrentados pela Direção Executiva do SNS e destacam áreas para possíveis melhorias na estrutura e na governança.